Projeto
no Amazonas quer difundir o tucupi em todo o país
- 25/02/2016 14h24
- Manaus
Bianca
Paiva - Correspondente da Agência Brasil
Tucupi embalado em saco plástico, pronto para
distribuiçãoLana Santos/Fapeam
Um ingrediente muito presente na
culinária amazônica e indígena, o tucupi, poderá chegar à mesa dos consumidores
de uma forma diferente. Pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia (Ifam), no Amazonas, trabalham no projeto Tucupi de Prateleira. A
finalidade é enaltecer o produto regional, promover o envasamento dentro dos
padrões dos órgãos de segurança alimentar e ainda aumentar a produtividade. A
iniciativa é desenvolvida em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Amazonas (Fapeam).
O tucupi é uma espécie de molho
feito a partir da extração do sumo da mandioca brava. Também conhecida como
macaxeira ou aipim, a mandioca é descascada, ralada e prensada. A parte sólida
é usada na produção de farinha, e o líquido de cor amarela é fervido por várias
horas para extrair o veneno presente na planta. Depois desse processo, o tucupi
já pode ser consumido e compor algum prato, como o pato no tucupi, típico da
região.
Atualmente o produto é vendido em
garrafas PET reaproveitadas. Segundo a estudante de tecnologia em processos
químicos do Ifam e responsável pela pesquisa, Suane Costa, os produtores vendem
o tucupi para os comerciantes que fazem o processo de tempero e embalagem. Com
o projeto, o tucupi será comercializado em uma embalagem tipo saco plástico,
com rótulo e especificações técnicas do produto.
“Hoje o tucupi, na forma como ele
é comercializado, tem prazo de validade médio de 15 dias. Com a técnica que
vamos aplicar, esse prazo sobe para três a seis meses. Não vamos interferir
totalmente na cadeia, mas, vamos padronizar [o processo de extração] com a
máquina prensa que está sendo desenvolvida que será disponibilizada ao produtor
em sistema de Comodata [empréstimo gratuito]”, explicou Suane. A expectativa é
que o tucupi em nova embalagem já esteja disponível no mercado amazonense até
dezembro deste ano.
Prensa
De acordo com o coordenador de
Culturas Industriais da Secretaria de Produção Rural do estado (Sepror),
Alexandre Araújo, essa máquina de prensa, que vai ser emprestada aos
produtores, vai substituir o tradicional tipiti (tecido em que se espreme a
mandioca). Com isso, haverá maior aproveitamento da matéria-prima. “Vai também
incentivar que os produtores passem a trabalhar mais com o próprio tucupi. O
que acontece hoje é que o maior produto trabalhado como derivado da mandioca é
a farinha, depois a goma. O tucupi geralmente é jogado fora sem cuidados ao
meio ambiente. No momento em que você valoriza esse produto, ele passará a ser
mais produzido e mais comercializado.”
O novo processo deve diminuir o
custo de produção e, consequentemente, o tucupi deverá ser repassado aos
comerciantes com um valor mais baixo.
Jorge do Tucupi vende o produto em garrafas PET há
mais de 30 anosErico Xavier/Fapeam
Seu Jorge do Tucupi, como prefere
ser chamado, trabalha com o produto há mais de 30 anos e demonstra interesse em
comercializá-lo na nova embalagem. “Se vier assim, embalado e com preço menor,
talvez seja melhor. Talvez a gente tenha menos despesa. Tem muita despesa para
levar, trazer, comprar embalagem, rótulo”, disse o comerciante.
Lidiane Gomes vende tucupi há
dois anos na Feira Manaus Moderna. Ela considera vantajosa a industrialização.
“Fica bem higiênico, mais bem conservado. Pelo menos do ponto de vista da gente
que trabalha com a venda, ficaria ótimo”, avalia a vendedora.
Exportação
A pesquisadora acredita que, com
um prazo maior de validade, o tucupi possa ser exportado para outros estados,
como o Pará, que é um grande consumidor. Segundo ela, um manual de boas
práticas do processo produtivo será elaborado em parceria com os produtores de
farinha e tucupi, levando em consideração a realidade local.
“O projeto está em fase de
implantação da empresa que vai gerenciar todo o processo. Estamos captando
recursos e também, em paralelo, estamos ainda em processo de mapeamento dos
produtores, confecção de manuais, visita a fornecedores e pretensos
fornecedores”, explicou Suane.
Edição: Talita
Cavalcante