Contra a corrente, guardiões da
floresta lutam para manter a Amazônia em pé
As
árvores de babaçu sobrevivem na paisagem devastada
Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Por Maiana Diniz, da Agência Brasil
A estrada de terra que parte de
Colniza em direção à vila do Guariba, distrito do município a cerca de 150 km
de distância, é margeada por áreas abertas de pasto, sem vegetação nativa, a
não ser a típica árvore de babaçu. Todos na região sabem o motivo: a espécie
estraga a corrente da motosserra e é ruim de derrubar, o que explica porque
sobreviveram no cenário desmatado.
A cerca de 80 km de Colniza, no
extremo noroeste do estado, próximo ao Amazonas e a Rondônia, a paisagem muda
com o surgimento de árvores altas que anunciam a Floresta Amazônica densa em
áreas conservadas da região.
Do lado esquerdo da estrada fica a
Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, com 138.092 hectares nos municípios de
Aripuanã e Colniza, onde vivem cerca de 400 ribeirinhos extrativistas que tiram
o sustento da mata em pé. Do lado direito da estrada fica a Terra Indígena (TI)
Kawahiva do Rio Pardo, com 411.844 hectares, onde vive um grupo de indígenas
isolados da etnia Kawahiva, do tronco linguístico Tupi.
À esquerda,
a Resex Guariba-Roosevelt. À direita, a TI Kawahiva do Rio Pardo
Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Marcelo Camargo/ Agência Brasil
“Do Rio Aripuanã até o Rio
Guariba era tudo mato. Nos últimos dez anos derrubaram tudo”, conta Jair
Candor durante a viagem até a base da Fundação Nacional do Índio (Funai), a 114
quilômetros de Colniza, onde trabalha desde que provou a existência do grupo
Kawahiva do Rio Pardo, em 1999.
As duas áreas são ilhas de
conservação da Amazônia no noroeste ameaçado de Mato Grosso. Mas quem vive lá
conta que as tentativas de invasão são recorrentes. Os territórios não estão
imunes à pressão fundiária. Um dia após a visita da equipe da Agência Brasil ao
acampamento provisório da equipe da Funai na terra indígena, o responsável Jair
Candor encontrou um acampamento de grileiros com cerca de 150 pessoas dentro da
área protegida por lei. Eles estavam morando em uma área recém-desmatada.
Os funcionários da Funai têm
poder de polícia dentro da área interditada, mas não têm recursos para grandes
operações. Por não conseguir enfrentar o problema sem ajuda, o sertanista
apenas notificou os superiores. Ele informou que quando a Polícia
Ambiental de Cuiabá chegou à região, os grileitos já não estavam no local,
mas dentro de áreas de fazendas interditadas. "Vimos os lotes marcados
dentro da TI, mas disseram que era engano e que não iam mais invadir a
área."
Filho e neto de extrativistas, o
líder comunitário Ailton Pereira dos Santos disse que se a reserva não tivesse
sido criada “já estaria tudo ocupado e detonado”. “A pressão para que a gente
saísse e as terras fossem tomadas, especialmente para exploração da madeira,
era muito grande“, lembra. Ele vive em São Lourenço, comunidade ribeirnha de
250 habitantes às margens do Rio Guariba, dentro da reserva extrativista.
Professor da escola de São
Lourenço, Ailton afirma que a comunidade tem uma visão diferente sobre
desenvolvimento. “Temos uma ideia clara de que para desenvolver não é preciso
desmatar. Desenvolvimento é manter para os nossos netos o que recebemos dos
nossos avós”, diz.
A Secretaria de Meio Ambiente do
estado avalia que a Resex, além de preservar o meio ambiente e o modo de vida
dessas populações, contribui para a conectividade ambiental da região noroeste
e “ao lado das demais unidades de conservação do noroeste de Mato Grosso
maximiza os esforços de conservação e funciona como barreira ao avanço do Arco
do Desmatamento em sentido norte”, conforme parecer técnico do órgão sobre a
reserva.
As invasões continuam mesmo após
a criação da reserva. O promotor Daniel Luís dos Santos, que atuou no município
de Colniza no último ano – a rotatividade de promotores na região é enorme –,
contou que na última grande operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em meados de 2015, foram autuadas 30
pessoas e encontradas grandes áreas devastadas, uma delas de 4 mil
hectares de desmatamento.
continua...
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