Livro
destaca lutas das mulheres rurais no mundo
Publicado
em 15/10/2019 - 22:17
Por Jonas
Valente – Repórter Agência Brasil Brasília
Foi lançado hoje (15) no Brasil e
em mais 13 países o livro Lutadoras. A obra traz 37 artigos abordando a
realidade das mulheres do campo em distintos países e as políticas públicas
voltadas a elas. Os textos discutem também suas reivindicações por melhores
condições de vida e garantia de mais direitos.
O livro é uma iniciativa do
Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), em parceria
com outras organizações. Entre os artigos, 41 autores discutem os diversos
aspectos das lutas das mulheres rurais.
O cenário retratado nos textos é
de desigualdade. As mulheres produzem metade dos alimentos do mundo e cerca de
80% da produção na maior parte dos países em desenvolvimento. “Contudo,
correspondem a 60% das pessoas com fome no globo, têm menos de 15% das terras
no mundo e menos de 2% das propriedades nos países em desenvolvimento”, disse
na cerimônia de lançamento a especialista em gênero do IICA Cristina Costa.
Empoderamento
Hernán Chiriboga, representante
do IICA no Brasil, disse que os projetos liderados por mulheres passaram de 10%
para 31% de 2012 para 2019. “Mulheres estão tomando liderança do agro
brasileiro. São dados importantes que queremos trazer. Esperamos que o livro
seja uma ferramenta para valorizar o papel da mulher no campo”, disse.
Segundo o coordenador da Região
Sul do IICA, Caio Rocha, o livro ressalta a equidade e de empoderamento para
trabalhadoras do campo. “Empoderamento não é um ato político em si. Ele depende
de políticas públicas, para acesso a crédito, para a questão dos mercados, para
economia criativa, as mais variadas políticas públicas”, disse.
A representante do Movimento de
Mulheres do Nordeste Paraense, Rita Teixeira, elencou entre essas políticas a
necessidade de apoiar a inclusão produtiva das mulheres do campo. Ela apontou o
benefício do ganho de renda em diversos aspectos, inclusive na redução da
violência. “Mulheres independentes financeiramente são menos violentadas.
Mulheres são protagonistas pelo trabalho com a agricultura, mas vemos a
invisibilidade delas”, disse.
Reconhecimento e educação
Um levantamento da Corteva, parceira do IICA, ouviu
4.200 mulheres, sendo 500 no Brasil, sobre a avaliação de sua condição e seus
anseios. Do total, 90% das mulheres ouvidas manifestaram orgulho de
pertencer ao agronegócio agrícola. Mas 80% das entrevistadas colocavam a
questão da discriminação como um fator ainda relevante que impactava salários.
As mulheres ouvidas demandaram mais reconhecimento
do seu quadro e das jornadas duplas que fazem. Também houve reivindicação por
educação e instrução formal, bem como maior representação em organizações
produtivas e políticas, como cooperativas.
Inserção e exclusão
O livro aborda essas e outras
temáticas em seus capítulos. Em seu texto, a representante da Secretaria Geral
da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), Josette Borbón,
ressaltou o papel das mulheres no desenvolvimento dos territórios rurais da
América Latina e Caribe, assegurando estabilidade e sobrevivência de suas
famílias. Quase metade dos alimentos consumidos, diz a acadêmica, seria gerado
por trabalhadoras rurais.
A pesquisadora assinala melhorias
na condição das mulheres, como diversificação da atividade produtiva e
ampliação dos níveis educacionais, superando os homens. Além disso, são
beneficiadas com programas de transferência de renda, como o Bolsa Família no
Brasil. Contudo, elas ainda estão excluídas em diversos aspectos. Os programas
sociais, por exemplo, auxiliam mas chegam apenas a 20% dos lares rurais da
região. Outro ponto de ainda baixa cobertura é a previdência para mulheres
rurais.
No âmbito da divisão do trabalho,
ainda ficam mais restritas geralmente aos minifúndios de subsistência, com
pouca participação em empregos de segmentos de maior produtividade, como na
agropecuária (20%, contra 53% dos homens). Além disso, pela ocupação com
tarefas familiares não remuneradas, elas têm dificuldades de obter renda
suficiente.
“A mulher rural depende do apoio
decisivo das políticas públicas para poder fazer a transição para a produção
intensiva e industrializada; para que possa ter segurança ante as emaças
potenciais a seu cultivo; e para poder se inserir, de forma equânime, nos mercado
de produção”, acrescentou a vice-presidente da República Dominicana e
embaixadora da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
(FAO), Margarita Cedeño, em outro texto do livro.
Relatos
Um dos relatos é de Rita
Teixeira, do Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense. No texto, ela conta
sobre dores que adquiriu no corpo em razão do trabalho pesado e a falta de
direitos na condição onde se encontra.
“Luto não só porque nasci e
cresci em um ambiente carente. Faço-o porque o conformismo não cabe em mim e
porque não posso (nem quero) calar a minha voz interior. Sonho com a
reestruturação da sociedade patriarcal, a qual, acredito, é ainda mais violenta
e injusta nos territórios onde habito”, escreveu.
A diretora da Rede Nacional de
Mulheres Rurais do México, Nuria Leonardo, abordou em seu capítulo a situação
das trabalhadoras rurais em seu país. Lá 8,5 milhões de mulheres do campo estão
em situação de pobreza (60% do total). Destas, 3 milhões estão em condição de
pobreza extrema e 5,5 milhões em situação de pobreza moderada.
Segundo levantamento apresentado
em seu texto, 47% das mulheres indígenas não possuíam instrução educacional,
contra 28% dos homens nessa mesma posição. “A magnitude do atraso nas regiões
indígenas é ultrajante, e representa, sem dúvida, a maior dívida do Estado
mexicano”, diz a ativista.
Matéria
alterada às 13h57 para correção de informação. O levantamento da Corteva,
parceira do IICA, ouviu 4.200 mulheres e não 2 mil.
Edição: Fábio
Massalli
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